Sábios são os espanhóis, que, diariamente, fecham as portas de seus estabelecimentos comerciais por volta da 1 hora da tarde para as reabrir somente lá pelas 3, quando retornam revigorados do sagrado período da siesta. O costume, que para nós brasileiros se traduz em tirar uma soneca depois de almoçar, se tornou alvo da ciência. Um time de psicólogos e neurocientistas do Allegheny College, nos Estados Unidos, avaliou os benefícios do sono diurno na recuperação cardiovascular após uma situação tensa. Para isso, separaram 85 pessoas em dois grupos. Um deles deveria dormir por 45 minutos durante o dia enquanto o outro permanecia acordado. Todos os participantes foram submetidos a testes de estresse. Os cientistas também aferiram a pressão arterial e constataram que ela se apresentou mais baixa entre a turma que repousou. Em outras palavras, o impacto negativo do nervosismo sobre as artérias foi revertido mais rapidamente.
"Outros trabalhos já demonstraram que descansar após o almoço diminui a pressão sistólica", confirma o cardiologista Marco Antônio Gomes, do Departamento de Hipertensão da Sociedade Brasileira de Cardiologia, sem se espantar. Ao falar em pressão sistólica, ele se refere ao número de maior valor que aparece registrado no aparelho de medição.
Os especialistas especulam que esse fenômeno seria comandado pelo cérebro, mais precisamente pelo sistema nervoso central, que é dividido em simpático e parassimpático. O primeiro acelera e o segundo coloca um freio nas funções fisiológicas. "Quando dormimos, há redução da atividade simpática, o que relaxa os vasos e diminui os batimentos cardíacos", explica o pneumologista especialista em sono Pedro Genta, do Hospital do Coração, em São Paulo. Entendeu então a lógica de uma soneca como sobremesa?
A curta duração de um cochilo não desmerece suas qualidades. "Em 45 minutos, é possível atingir a fase três do sono", diz Pedro Genta (veja infográfico na página 70). Ou seja, dá tempo suficiente de ele se aprofundar a ponto de proporcionar vantagens ao corpo.
Vale reforçar, porém, que é na escuridão da noite que o cérebro secreta um hormônio fundamental para que se adormeça bem pra valer: a melatonina. "Uma venda nos olhos ou um quarto escuro ajudam a simular o descanso noturno, potencializando a ação positiva da sesta", ensina Marco Antônio.
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