segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Sangue vegetal "Seu sumo renova tecidos. Bom para coração, pulmões, fígado, rins, intestinos, pele. Purifica o sangue. Nossa conhecida desde que aparecemos no planeta, ainda nos brinda com o vinho, bebida mais antiga e saudável. E que deleite chupar uva debaixo da parreira."


No início de julho, lembrei que me havia esquecido da poda da parreira no Dia de São João, 24 de junho, como ensinou Dilma, que por quatro anos cuidou de meu quintal. Telefonei-lhe apreensivo. Recordava que, não podando, a videira míngua. Ela me tranquilizou: “Ainda é tempo. Corta a ponta dos baraços”. Baraços? Só podiam ser os galhos, na fala açoriana de Dilma. Fui até a parreira.


Sequinha. Pensei: “Morreu”. Em todo caso, podei ponta por ponta. Um mês depois, que surpresa! A videira se cobria de folhas verde-claro; em setembro, encheu-se de cachos, com minúsculas uvinhas. E no próximo dezembro, elas estarão no ponto.

Quando surgimos no planeta, há 2 milhões de anos, a parreira já nos esperava de baraços abertos – há vestígios de uva em fósseis de épocas anteriores a nossa existência. Originária do Cáucaso, espalhou-se pelo mundo. É uma trepadeira lenhosa, com gavinhas de fixação, de caule espesso, retorcido e resistente. Frutifica no terceiro ano após o plantio. Alguns vinhedos vivem até 150 anos. Então, por seis gerações meus descendentes poderão usufruir da parreira que Dilma plantou em meu quintal. No Brasil, as primeiras mudas chegam com Martim Afonso de Sousa em 1532. Mas cabe ao fidalgo Brás Cubas a honra de viticultor pioneiro, na Capitania de São Vicente.


Morreu em 1592, prestes a completar 100 anos – centenário, com certeza, por consumir habitualmente a frutinha da longevidade. O suco da uva, pela composição, assemelha-se ao leite materno e, por isso, o chamam sangue vegetal ou seiva viva. O açúcar, de glicose e frutose, é diretamente assimilável, sem esforço do aparelho digestivo, e assim também ajuda no restabelecimento dos enfermos. O cultivo para produzir vinho é atividade antiquíssima. Já existia no Egito e na Ásia Menor em 8.000 a. C. – época em que deixávamos o nomadismo e nos iniciávamos na agricultura, na criação de animais, na produção de cerâmica. Levaríamos quase 10 milênios até que o monge beneditino francês Pierre Pérignon criasse, no fim do século 17, o champanha. Tão nobre, que o reservamos para momentos inesquecíveis. Napoleão, que soube perder e soube vencer, glorificou-o com frase lapidar: “Nas vitórias é merecido, nas derrotas é necessário”. Brindemos com champanha à quintessência da uva: o champanha.



Alegria Engarrafada 
 
Lá na pré-história, antepassados nossos chuparam umas uvas e, no côncavo de uma pedra, deixaram as cascas, que fermentaram na água da chuva. Alguém bebeu daquilo e, contente com a sensação, tratou de fazer mais. Eis uma hipótese para a descoberta do vinho. Diz o Gênesis que Noé era chegado na bebida que o poeta espanhol quinhentista Espinel louvou: “O vinho dá força ao coração. Dá calor ao rosto. Tira a melancolia. Alivia o caminho. Dá coragem ao mais covarde. Faz esquecer todos os pesares”. Gregos adoravam Dioniso, deus do vinho – Baco para os romanos –, celebrado em festanças que duravam dias. 

Com os legionários romanos, a videira chega à Gália, futura França, pátria do vinho – referência mundial graças à diversidade de climas e solos, mais as técnicas aperfeiçoadas através dos séculos. Mas não reina mais sozinha. Há bons vinhos por toda parte. Até na nossa caatinga. Com clima quente e seco, três mil horas de sol por ano, lá se produz vinhos frutados, leves, exportados para Europa, Estados Unidos e Japão. Quem diria?

 
Fruta da longa vida 
 Tem vitaminas A, B e C; cálcio, ferro, fósforo, magnésio, sódio. É energética, desintoxicante, laxante, diurética, anti-inflamatória, reconstituinte. Graças aos sais de potássio, que eliminam substâncias inúteis como o ácido úrico, melhora reumatismo, gota, artrite. Indicada para anemia, má digestão, bronquite, febres, hepatite, tuberculose, depressão. Estimula as funções cardíacas. Baixa a pressão. Regenera as células. Equilibra a taxa de colesterol. Previne câncer. Antioxidante, traz longevidade.


 
Adivinha quem falou
 
“Todos os reinos por uma taça.” - Platão
 
“Vinho cor do dia, da noite, com pés púrpura.” - Ditado latino
 
“Composto de humor líquido e luz.” - Hemingway
 
“No vinho está a verdade.” - Omar Kayam
 
“Excelente para o homem, tanto sadio como doente.” - Shakespeare
 
“A mais higiênica das bebidas.” - Hipócrates
 
“Rejuvenesce os velhos, cura os enfermos.” - Neruda
 
“Criatura jovial, se bem usada.” - Sêneca
 
“Alegra o coração, e a alegria é a mãe de todas as virtudes.” - Galileu
 
“Enxuga a alma até o fundo.” - Goethe
 
“Uma das substâncias mais civilizadas.” - Pasteur


SAIBA MAIS
 
Embrapa Uva e Vinho: www.cnpuv.embrapa.br 
A Dieta do Vinho, de Roger Corder (Sextante, 2008).



                                                         

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