sexta-feira, 13 de julho de 2007

Escuro como a noite, quente como um pecado: uma iguaria chamada café.


Poucos hábitos podem ser compartilhados em sociedades tão diferentes quanto tomar café. Seja na Arábia Saudita, na Dinamarca, na França ou no Brasil, aconchegar o corpo com o calor, o sabor e os efeitos da bebida faz parte da rotina diária de milhares de pessoas.

Números surpreendentes são capazes de confirmar o quanto o café está inserido nas atividades de diversas culturas: depois da água, trata-se da bebida mais ingerida no mundo. A fruta do café fica no primeiro lugar dentre as mais consumidas do planeta. E não foram poucos os poetas, pensadores, músicos, cientistas e criadores do Oriente e do Ocidente a citar a fruta, seu grão e seus preparos como grandes fontes de inspiração.

Segundo a versão mais conhecida, por volta do ano 500, um pastor de cabras muçulmano chamado Kaldi percebeu que seu rebanho ficava especialmente estimulado após consumir certas frutinhas vermelhas, descobrindo, assim, o poder estimulante do café. De lá para cá, diversos foram os caminhos percorridos pela iguaria. Além das formas variadas de preparo da bebida e dos sabores possíveis de acordo com os diferentes tipos de grãos, a gastronomia também já explora o café em outras e inusitadas searas.

“É muito comum o seu uso em confeitaria, no preparo de doces e sobremesas. Porém, o café também pode ser utilizado como base em receitas salgadas, em molhos e marinados para caça e carne bovina”, explica Thabata Neder, chef, pesquisadora e sócia do Comida Serviços Gastronômicos. Assim, o café empresta o seu sabor e o seu aroma a combinações surpreendentes, como na receita sugerida por Thabata para a Revista Afinnidades: um delicioso coelho marinado. “Algumas combinações são mais famosas, como o café com leite. Outras são bem certeiras, como café com chocolate, canela, baunilha ou rum. Porém, não acredito que possamos citar combinações completamente inadequadas, trata-se mais de uma questão de gosto mesmo”, explica a chef.

De vilão a aliado

Para deixar essas combinações ainda mais apetitosas, o café tem passado por um verdadeiro processo de absolvição nos últimos anos. Antes visto como vilão exatamente por suas propriedades estimulantes, seu consumo agora passa a ser considerado benéfico e até recomendável na prevenção a certas doenças, como o diabetes tipo 2. No Brasil, o Incor (Instituto do Coração) do Hospital das Clínicas de São Paulo criou uma unidade de pesquisa específica para o estudo dos efeitos do café nos processos cardíacos. O aprofundamento de diferentes pesquisas tem desmistificado a bebida e derrubado alguns mitos que, durante muito tempo, deixaram os amantes do café preocupados.

Segundo o Professor Doutor Darcy Roberto Lima, coordenador científico da Associação Brasileira da Indústria do Café, um dos equívocos mais recorrentes está em acreditar que o café é composto principalmente pela estimulante cafeína. “A maioria das pessoas que toma café diariamente ignora quais são as substâncias que estão presentes na bebida e pensa que o café contém apenas ou principalmente cafeína. O café possui somente de 1 a 2,5 % de cafeína, e diversas outras substâncias em maior quantidade, que podem até ser mais importantes do que a própria cafeína para o organismo humano. O grão de café (café verde) possui uma grande variedade de minerais - como potássio, magnésio e cálcio, aminoácidos, açúcares, além de vitamina B3. Em maior quantidade, porém, estão os ácidos clorogênicos (presentes de 3 a 5 vezes mais que a cafeína). Após a torra, esses ácidos formam substâncias que possuem efeitos farmacológicos comprovados, como aumento da captação de glicose (efeito antidiabético), ação antagonista opióide (efeito antialcoolismo) e inibição da recaptação da adenosina (efeito benéfico na microcirculação)”, detalha o especialista.

Ainda segundo o Doutor Darcy, o conhecimento dessas substâncias e as centenas de pesquisas já realizadas em todo o mundo vêm questionando outras antigas crenças, como a de que o café causaria vício ou estaria diretamente ligado a problemas do estômago. A ação estimulante da cafeína, porém, realmente pede que o consumo da bebida seja moderado, não apenas para evitar os problemas decorrentes dos estados de taquicardia de seu consumo excessivo, como para prevenir outros possíveis distúrbios, como o do sono. Na quantidade certa (para um adulto entre 20 e 60 anos, até quatro doses diárias de 150 ml), o café auxilia na atenção, na concentração e, segundo estudos recentes, estimula também a inteligência. Pontos a favor de uma iguaria cheia de sabor e aroma inconfundível. Confira abaixo a receita indicada por Thabata Neder. É possível até cozinhar tomando um cafezinho, preparado de acordo com a sua preferência. Aproveite!

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